terça-feira, 21 de outubro de 2008

D'ALE, ROGER E OUTROS 'QUETAIS'

Por Daniel Ricci Araújo


Quando Roger jogava-se no chão cavando faltas capazes de fazer corar a Velhinha de Taubaté, pouco se ouvia. Vá lá: um cochicho aqui, outro acolá. "Mas ele se joga um pouquinho demais, né não"?. "Ele é um jogador habilidoso", diziam os co-irmãos, defendendo o indefensável. Eu até imaginava o inverso. Com aquelas meias arriadas, um corpo esguio parecendo um Sandovalzinho loiro e o cabelinho estilo "penteado pela mãe", o próprio Roger defendendo o nosso time.

Faltaria voz para tanto geraldino dizer, provavelmente em espanhol, que o Inter é um time com a cara do Roger. Eu consigo visualizar a cena. Mas ele estava no Grêmio, e essa diferença é tudo.
"Ele é um jogador habilidoso e sofre muitas faltas", diziam os arautos do "copeirismo" pampeano.

O namorado da Deborah. A Deborah, falando mais chiado do que o Sergio Noronha, desfilando na passarela com uma manta da Geral, mais marqueteira e menos portenha impossível (aqui, um adendo: eu li na época que a Geral estava "trazendo as mantas das torcidas para o futebol brasileiro"; conclusão: os outros "copiam", a Geral "traz para o futebol brasileiro", como se fosse uma importadora de chuteiras ou algo que o valha). Tá bem.

Articulador por articulador, comparemos. Mas e D'Alessandro? D'Alessandro é, dos pés à cabeça, um típico, um estridente e inegável jogador argentino. E com essa autoridade gentílica a precedê-lo até quando entra na padaria da esquina, D'Alessandro encontra no verbo dos cronistas a apreciação quase seca que em Roger vinha enfeitada quase sempre, ou era ainda mais docemente adornada como o confete cristalino que se lança num sonho de mu-mu. Roger caía, D'Alessandro catimba. Roger passava milimetricamente, D'Alessandro lança. Roger era um maestro, D'Alessandro é um bom jogador. Roger reclamava do juiz: era um experiente do grupo. D'Alessandro reclama do juiz: é um portenho manhoso. Sou eu que estou vendo fantasmas ou é mais ou menos por aí?

O argentino está entregue às especulações mais do que o Dow Jones do mercado financeiro. Para provar isso, surge uma notícia terrível: nos treinos fechados da semana passada, D'Alessandro e Alex não passavam a bola um para o outro. Estarrecedor. As bolsas despencam mundo afora por causa do dólar, da eleição dos EUA, das hipotecas não-pagas da classe média americana? Não. O mundo econômico pede licença e vai aos pés no banheiro porque, supostamente, Alex e D'Alessandro não compartilham a pelota mutuamente quando no escurinho dos treinos secretos. Aí está uma daquelas coisas que, pelo simples fato de terem sido ditas, estão mais gravadas no imaginário do povo do que a Tábua dos Dez Mandamentos.

Alex e D'Alessandro podem oferecer conjuntamente churrascos notáveis, podem passar uma tarde a compartilhar a beira das piscinas do Parque Gigante com a família, podem tomar assento juntos no Conselho de Segurança da ONU, mas mesmo assim já estarão, para alguns, como inimigos carnais e consumados aos olhos da massa. No Grêmio, não. No Grêmio, o presidente está numa chapa, o vice de futebol na outra e é só no dia da eleição que se registra, aqui e acolá, algum "clima frio" entre os contendores. Antes, mesmo que fosse já na véspera da contenda, disputando furiosamente o futuro do clube, poderiam os dois jogarem-se nos braços um do outro, tal era a impressão que se tinha pela cobertura da crônica. Mas no Inter, os dois canhotos do time estão quase se matando no anonimato do vestiário. Tá bem.

"O mundo está contra nós", dirão os radicais da causa. Não, por favor. Mas que de vez em quando a gente sente uma dorzinha lá no fígado com algumas coisas, ah, isso sente. E o pior: a crítica especializada ainda não disse o essencial, o inevitável, o óbvio sobre D'Alessandro. E sobre Roger.
O nosso marrento joga dez vezes mais do que o deles jogava!

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