quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O ANTI-CLICHÊ

Por Marcelo Benvenutti


Quem gosta de cinema e de literatura deve saber muito bem que os clichês colam nos roteiristas e escritores mais que imãs de tele-pizza na porta da geladeira. É quase impossível driblá-los em certa altura da trama. Depois de muitas leituras e correções, o autor vai se espantar ao notar quantos clichês escaparam incólumes à sanha da tesoura do criador.


Um dos clichês mais universais do cinema norte-americano, que no fim de tudo acaba sendo da própria história do cinema, é a do herói solitário. A ponto de a notória revista francesa Cahiers Du Cinema, bíblia da NouvelleVague, classificar o western como o próprio cinema norte-americano e, por conseqüência, mundial. Um dos filmes mais emblemáticos deste genêro é "O Homem que Matou o Facínora".


John Wayne, o que matou, tem sua vida perturbada quando um advogado, interpretado por James Stewart, chega a uma cidade do Velho Oeste. A cidade é atacada seguidamente por um bandido chamado Liberty Valance, vivido por Lee Marvin, sem que nada se altere. Até que o advogado resolve combater a força bruta das armas rápidas com a constituição na mão.

Obviamente se dá mal. Ou não. Pois no desenrolar da história "mata" o facínora que o desafiara para um duelo ao velho estilo "nós dois sozinhos na rua central". O que se passa é o enterro pobre e deprimente do personagem estrelado por John Wayne, o homem que matou o bandido, fazendo com que até o personagem de James Stewart acreditasse nisso. Para logo depois cair no esquecimento. O próprio filme encerra-se na frase: Publique-se a lenda.


Muitos outros exemplos, centenas, eu poderia dar aqui de filmes que seguem o padrão do homem solitário que resolve os problemas dos outros e morre esquecido. O último deles se encerra com o mais recente filme do Batman. Solitário, o cavaleiro das trevas combate aqueles que tentam destruir os valores comuns da sociedade e em troca recebe o esquecimento ou o desprezo.


Pois no Internacional existe um homem que é a exceção à regra do clichê. Ele combate o mal, o adversário, onde os outros não combatem. Ele não espera recompensas extras pelo que faz. Quando todos desistem, tal qual Gary Cooper em Matar ou Morrer, ele não desiste. Mesmo que todos parassem, ele jogaria, ou pelo menos tentaria, jogar pelos outros dez. Nada o faz desistir.


Não sabemos, e nem queremos saber, se uma fratura exposta o faria perder o norte. Talvez não fizesse. Não preciso dizer aqui quem é este homem. Até as fundações do Beira-Rio tremem ao retumbar de seu nome cantado pelo povo colorado. Ecoam nomes do passado. Heróis esquecidos de outras eras. Heróis que se redimem. Enfim o mundo se rende ao herói solitário. O anti-clichê.
Que os outros jogadores colorados sigam o exemplo do herói. Que perpetuem o fim dos clichês. Que todos, de uma vez por todas, apreendam um antigo ditado mais que clichê: A verdadeira luta não é a união de muitos por objetivos individuais. É a união das individualidades em prol de um objetivo comum.


Publique-se o fato.

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