terça-feira, 14 de outubro de 2008

OS SUMIDOS DO INTER

Por Daniel Ricci Araújo

Se uma coisa chama-me a atenção sobre o aproveitamento de alguns jogadores do Inter é o fato de que os relegados, muitas vezes, não sofrem única e exclusivamente de perda de espaço. Não se imagine que no Inter sempre ocorre o declínio gradual e episódico dos jogadores, como se fosse a lenta e premeditada agonia de um bebum da Cidade Baixa. Não, pelo contrário. Iguais a uma estrela cadente no céu, subitamente os 'sumidos' do Inter passam da luminosidade para o invisível a olho nu. Desaparecem. Escafedem-se. Tal qual uma mosca zunindo à noite no quarto escuro, é como se incomodassem sem estar em lugar nenhum.

Vejamos alguns casos.

O primeiro, por questão de importância técnica, é o matador Walter. Walter foi o grande, o radiante destaque do Inter na Copa São Paulo. Sem tirar nem pôr, no calor senegalês de janeiro assistíamos pela televisão, em Walter, à ascensão ao mundo do novo Claudiomiro. E era empolgante. Terminado o campeonato, imaginava-se no mínimo dos mínimos o banco de reservas imediato para o rapaz. Mas pasmem: com total espanto chegamos a outubro tendo visto-o jogar uma partida só, contra o Santos, e de ponteiro! E se não bastasse isso, agora cai sob sua cabeça a acusação de ser "gato", nesse caso um gato de enciclopédia, de conto machadiano, situação prontamente repelida pelo presidente Fernando Carvalho.

"Walter está à disposição", asseverou o eterno presidente com uma daquelas suas frases decoradas de uma certeza transatlântica. Mas, ora, "à disposição", nesse caso, significa o mesmo do que dizer "Walter não joga e nem jogará". Porque a verdade mediúnica, a verdade amazônica e alarmante é a de que o garoto não joga, e não figura no banco, e não está no vestiário, nem na concentração, nem nas máquinas de ginástica do academia do estádio e muito menos passeando pelas largas rampas do Gigante. O torcedor mortal e comum não o vê a não ser em jogos obscuros nas terças-feiras à tarde, e olhe lá. Ao fim e ao cabo está mais fácil encontrá-lo na rua comendo um pastel e tomando uma Coca-Cola do que no campo. Walter simplesmente sumiu.

Mas esse não é o único caso.

Vejam Luiz Carlos, trazido do Ceará quando ainda era artilheiro da Série B, aquela de tão saudosa memória para alguns clubes do país. Luiz Carlos tem aproximadamente dois metros de altura, três de largura e uma envergadura que faria Michael Phelps parecer o Pequeno Polegar da revista infantil. É um centroavante desses oceânicos, dantescos, um desses camisas noves que em vez de jogar futebol sabem somente fazer gols (e aqui um adendo: noves fora as exceções geniais, que as há, não se confie no centroavante puramente técnico nem mais nem menos do que na freira tardia e convertida: o centroavante, via de regra, precisa nascer com um mínimo de trombador dentro de si, e a freira precisa vir ao mundo mais casta do que a Virgem Original. Assim como o centroavante habilidosíssimo, a freira convertida aos trinta anos é um alarmante perigo institucional). Mas, como eu dizia, Luiz Carlos é um nove de ensaio acadêmico, de capa de livro. E desaparecido.


E mesmo portando essa ostensiva e gigantesca condição de centroavância, por onde anda Luiz Carlos? Ninguém sabe, ninguém viu. Teria voltado para o nordeste? É possível. Em compensação, Adriano, o longínquo e interminável Adriano entra num jogo sim, no outro também, e no próximo com certeza. Ninguém tem quaisquer dúvidas sobre como proceder para encontrá-lo. Ele está sempre radiante e desvairadamente no banco, entrando em vários jogos – quando não os começa, e jogando sempre o mesmo futebol. Luiz Carlos, ao contrário. Talvez por ser um poste grudado dentro da área, desses que decidem vidas e campeonatos, está como que proibido de ter chances. Caso a bola batesse-lhe na canela e entrasse, isso já seria um formidável e estupendo gol de centroavante, mas a realidade é que o nosso matador abortado da segunda divisão e sua canela estão igualmente desaparecidos e flutuando por aí, quem sabe à procura de uma meta e uma bola para estufar nas redes.


Poderíamos falar de Bustos, da Seleção Colombiana para sabe-se lá onde, para o nada com coisa alguma, e isso não diríamos sem antes acusar a quixotesca presença de Ricardo Lopes, mais assíduo no time do que Rei Momo no Carnaval. Poderíamos perquirir quanto a Álvaro, o lesionado, ou Sorondo, o infeliz – dois lamentáveis desaparecimentos, se bem que por outras razões. O Inter tem alguns sumiços explicáveis. Outros, nem tanto.


Enquanto isso, de ausência em ausência, o ano vai esvaindo-se e, ao que tudo indica, dificilmente com Libertadores no centenário. Chegou a hora de focar todas as baterias na Sul-Americana.

Todos, sem exceções.


Presentes e sumidos.

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