terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Por Daniel Ricci Araújo

Tenho a impressão de ver na maioria das pessoas a crença de que a falta de Libertadores no nosso Centenário explica-se pela apagada trajetória do Inter no Brasileirão. Eu, no entanto, tenho para mim coisa diferente. O pecado capital da temporada de 2008 ocorreu na Ilha do Retiro, em maio daquele finado ano. Foi ali, no momento crucial no qual alguns jogadores experimentados do elenco falharam, foi ali, empatando um jogo e estando com um a mais que o ano de 2008 entrou em uma letargia profunda, da qual realmente só veio a acordar quando Nilmar estufou a rede do Estudiantes, sete meses depois.

O nosso grande Calcanhar de Aquiles de 2008 foi a Copa do Brasil.

E por mais irônico que possa parecer (pausa: o futebol, ora pois, quase sempre é atroz e descaradamente irônico), o 8 a 1 no Juventude atrapalhou a classificação na Copa do Brasil. Tendo massacrado o time caxiense no domingo, o Inter, mesmo que não queira admitir, chegou mais desgastado para o jogo de ida contra o Sport no Beira-Rio, três dias depois. E mesmo tendo dominado escancaradamente aquela partida do primeiro ao último minuto, venceu só por 1 a 0. Ali, naquela vitória tranquila e mirrada, começou a escapar a Libertadores de 2009.

Não me entendam mal: o Inter tinha mesmo de ter feito oito, nove, dez, quinze gols no Juventude. A alma colorada pedia essa vingança, e fez bem ao clube aquele escore acachapante, como se o time e a torcida fossem uma pessoa que, recuperada, tratasse de nocautear a bofetadas um antigo inimigo que se aproveitara de um súbito momento de fraqueza seu. Mas aquele suor jogado na grama, aquela raiva misturada com alegria liberada, aquela oportunidade brilhando aos nossos olhos de simplesmente incinerar o inimigo foram como o contraveneno ministrado ao mais letal dos suicidas: satisfeito e empanturrado com aquele banquete de gols, o Inter foi dormir feliz. Mas mortalmente extenuado.

Em outras épocas e com menos carga sobre si, o Inter teria – quem sabe – desclassificado aquele Sport Recife até ao natural. No jogo em Pernambuco, assustou a maneira como a nossa equipe simplesmente perdeu o prumo da partida de um momento para outro, e isso jogando com um a mais. Águas passadas? Sim, mas aquele era um rio de fácil navegação e que atracava na competição mais importante desse ano. Imaginem o Inter na Libertadores com Nilmar, D'Alessandro e Alex. Pelo menos sonhar com o bicampeonato seria no mínimo um dever.

A tabela da Copa do Brasil de 2009, se tudo correr dentro da normalidade, nos anuncia em fevereiro o desconhecido União Rondonópolis e após, fazendo uma simples projeção, Guarani, Náutico, Flamengo, Coritiba ou Santos e, na final, Fluminense ou Corinthians. Ah, o Corinthians... Aqui um parênteses – que maravilhoso seria pegar o Corinthians na final desta Copa do Brasil. O Juventude já passou pela nossa vingança, mas nem todas as nossas contas foram acertadas. Temos que passar a régua e fechar a conta dessa outra cota pendente.

Esse ano, começamos a jornada de jogos com uma pré-temporada sem glamour mas convencional, pragmática. Ao que tudo indica o time que acabou 2008 jogando talvez o melhor futebol do país está mantido, Tite trabalha com mais confiança, sem a pressão inicial gerada por sua contratação e Fernando Carvalho está de volta oficialmente ao clube. O Inter está fora da Libertadores, mas a base está, e aqui continuará. E mais: jogar algo é menos importante do que vencer. Jogar, até o Boyacá Chicó joga. Jogar é para muitos, vencer é para um só.

O torneio mais importante do primeiro semestre o Inter entra para ganhar, ninguém duvida disso, do Oiapoque ao Chuí. O negócio agora é a Copa do Brasil. E tenho certeza que vamos com tudo.

Afinal de contas, a Libertadores precisa do Inter para ser melhor do que já é.

Nenhum comentário: