segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

TORCEDOR ANTES DE TUDO

Por Andreas Müller


O Conselho Deliberativo do Inter, devo confessar, ainda é um universo estranho para mim. Conheci-o pela primeira vez na noite do último 29 de dezembro, uma noite calorenta e de ruas semidesertas em Porto Alegre. Cheguei cedo, quase uma hora antes do combinado, apenas para ter certeza de que não perderia nada importante – ou pitoresco. Mas exagerei na dose e fiquei um tempão parado em frente ao salão, aguardando os demais conselheiros colorados se abancarem. Tudo muito calmo e protocolar. Nem parecia que naquela noite seria apreciado um assunto de primeira grandeza: o orçamento do Sport Club Internacional para o ano de seu Centenário.

Talvez você não saiba, então aí vão os parênteses de esclarecimento: eu sou um dos 23 novos conselheiros do movimento INTERnet/BV eleitos em dezembro. O grupo recebeu mais de 1.000 votos. Um resultado surpreendente, é verdade – porém legítimo, inapelavelmente. Hoje, contando-se com os dois conselheiros que já haviam sido eleitos em 2006, o movimento INTERnet/BV dispõe de 25 representantes no Conselho Deliberativo do Inter. Não posso negar que sinto um orgulho inominável de ser um deles... Mas isso é outra história. O Final Sports não é – e nunca foi – palanque político de ninguém. Voltemos, portanto, ao objetivo central desta crônica: descrever o ambiente peculiar que impera numa assembleia do Conselho Deliberativo do Inter.

Eu sei que vai soar estranho, mas o fato é que uma das primeiras coisas que chamam a atenção de um novato como eu são as... pipocas. Sim, pipocas. Pois há, na entrada do Conselho, uma máquina de fazer pipocas. Os conselheiros que chegam cedo podem ir até ali e pescar o seu saquinho de pipocas livre e gratuitamente. E assim é: enquanto a reunião não começa, os nobres representantes dos mais variados movimentos e correntes políticas do Inter se esbaldam em pipocas. O salão propriamente dito ainda está vazio e, aos poucos, começa a se formar uma fila considerável em frente à mesa com a lista de presenças. Mas quase todos os conselheiros se apresentam devidamente munidos dos seus saquinhos de pipoca.

Entrar no salão do Conselho Deliberativo é uma experiência à parte. Tem-se ali um verdadeiro parlamento. São cerca de 300 cadeiras dispostas em meia lua em torno de uma mesa central – onde se localiza a diretoria. No fundo, jazem os quadros de alguns dos ex-presidentes mais ilustres da história do Internacional, todos eles devidamente pintados à mão. E é no mínimo honrosa a tarefa de se sentar sob o olhar de Henrique Poppe Leão tendo nas mãos a responsabilidade de apreciar assuntos cruciais para o futuro do clube que ele ajudou a fundar.
Eu disse que o Conselho Deliberativo do Inter se parece com um parlamento? Pois peço desculpas pelo eufemismo: o lugar é um parlamento no sentido literal da palavra. Conselheiros alinhados à “situação” – isto é, que apoiam declaradamente a atual diretoria do Inter – sentam-se à direita da mesa-diretora. Já os de “oposição” se colocam à esquerda. No centro se posicionam, ainda, os “independentes” e alguns desgarrados de grupos mais antigos. É mais ou menos por ali que eu e meus 24 colegas do INTERnet/BV procuramos assento nesta primeira participação.

A reunião começa com um discurso do atual presidente do Conselho Deliberativo do Inter, Claudio Bonatto, que lê a pauta do dia e faz algumas considerações iniciais. É assistido de perto por Vitório Piffero, Mário Sergio Martins da Silva e outros ilustres membros da casa. Sem demora, os conselheiros começam a se manifestar a respeito do assunto primordial desta noite: o orçamento do Inter para 2009. Fazem questionamentos, sugerem ideias (algumas delas, excelentes) e também dirigem algumas críticas à direção. Todas as intervenções, elogiosas ou não, têm resposta por parte da diretoria. Em alguns casos, é o próprio presidente Piffero que se encarrega de respondê-las. E assim se encaminham as discussões sobre o orçamento do Inter para 2009 – que, minutos mais tarde, será aprovado por unanimidade.

O ponto curioso é a reação dos conselheiros a cada intervenção. Se um representante da situação se manifesta, recebe aplausos somente do pessoal da própria situação – os demais o ignoram. Da mesma forma, um discurso de alguém da oposição é ovacionado somente pelos da oposição. Não importa o que se diga; se a ideia é brilhante ou inútil, se a sugestão é genial ou desprezível – cada conselheiro só recebe apoio explícito entre os seus. Já eu, novato que sou, procuro me manter fiel a meu pragmatismo de torcedor: aplaudo todos que falam de algo que considero útil para o Inter, independentemente do fato de estarem à direita ou à esquerda da mesa-diretora.

A reunião se aproxima do fim e, agora, a pauta entra naquele terreno mais pantanoso, normalmente designado como “assuntos gerais”. Vários conselheiros pedem a palavra. Uns são mais econômicos e pragmáticos: fazem perguntas objetivas, vão direto ao ponto, dão o recado e esperam pela resposta. Outros preferem exercitar a própria retórica e se deixam demorar em torno de assuntos recorrentes, já exauridos por outros conselheiros. Há, ainda, aqueles que preferem açoitar adversários políticos. É um negócio meio assustador, à primeira vista. Mas o fato é que tudo transcorre dentro da mais cristalina normalidade.

Por que estou entrando neste assunto justamente hoje?

Simples: sou colunista do Final Sports desde 2002. Aqui eu já fiz críticas, elogios, crônicas e odes sobre os mais diversos temas relativos aos Inter. Já pisei na bola muitas vezes, mas também já acertei lá na gaveta. O certo é que, nestes quase sete anos, eu jamais me despi do sentimento mais genuíno de torcedor colorado. O que eu falo, o que eu sinto, tudo que vem desta cachola é inapelavelmente colorado. Assim continuará sendo nos próximos anos. Todas as segundas-feiras, o leitor do Final Sports poderá ler, aqui, minhas opiniões sobre tudo que diz respeito ao Inter. Serão opiniões de um conselheiro, sim senhor. Mas serão, mais do que isso, opiniões de um simples torcedor colorado de arquibancada. Um torcedor que não tem nenhum outro interesse senão o de ver o Inter ser “campeão de tudo” – ou, melhor ainda, campeão de “tudo de novo”.

Um excelente 2009 a todos.

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