quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

QUANDO OS FEIOS TÊM VEZ.

Por Marcelo Benvenutti

Dizem que o homem ideal para as mulheres é o feio. O feio, ao contrário do cara bonito, convencido e arrogante, sempre trata bem as mulheres. O feio puxa a cadeira. Ele traz flores no primeiro encontro. Paga a conta. Abre a porta do carro. O feio faz de tudo para que a mulher esqueça o básico: ele é feio.

Quando chega na hora do vamos ver, enquanto o bonito muitas vezes faz o óbvio, parte para o feijão com arroz, o feio investe nas preliminares. Abusa das investidas pelas pontas. Ataca por todos os flancos. Dizem que o feio é uma laranja mecânica. Afinal, o feio sempre tem de ser mais. Provar mais. Querer ser mais do que é. O feio precisa se garantir nos mínimos detalhes. Se ele vai ficar com a mulher, levá-la para a cama, namorar com a pretendida, é outra história. O feio sabe que isso não é impossível, mas é improvável. A natureza é injusta. E as mulheres, ainda mais.

Quando Alex e D'Alessandro foram expulsos domingo contra o Zequinha, completou-se o fim do meio campo colorado. Já sem o entrosamento com o "feio" Edinho, Magrão ficou solitário sem Guiñazu e as duas estrelas expulsas na partida. Restaram os "feios". Andrezinho. Maycon, Rosinei. Assim é o Gauchão. Assim ele tem sido nos últimos anos.

O Gauchão não estabelece grandes times. É um campeonato feio. Sujo. Malvado. Um campeonato traiçoeiro. O Gauchão não é nenhuma prenda bonita. Nem de longe parece com uma mulher em quem alguém deva investir. Os "bonitos" arrogantes desdenham do Gauchão. Pra que se esforçar? É fácil ganhar. Quando quisermos, vencemos. Em 2007 pensamos assim e só nós sabemos o fiasco que foi acabar em sétimo. Pois nós éramos bonitos e, afinal, o que essa mulher feia tá achando pra cima de nós? Por isso Alex e D'Alessandro não fizeram tanta falta. Por isso Andrezinho foi o nome do jogo ao lado do Taison. O Gauchão se abre para os que investem nele. Acreditam. Lhe abrem a porta. A passagem. Estendem o tapete vermelho para seus pés cascudos e enlameados. Por isso Rosinei pode até ficar lá fazendo de conta que joga. Pois ele, dentro dos seus limites, que não são muitos extensos, satisfaz o Gauchão. Marcão, mesmo sendo atropelado, basta. Um beijo. Um boa noite de Maycon e o Gauchão arreganha as pernas tal qual virgem piscante. É bola dentro. Festa.

Não levem o Gauchão a mal. É como pegar mulher feia no fim da noite. É ruim acordar dando bom dia, mas na hora, no entrevero, é feio não encarar. O Gauchão é o lugar em que os encantos não têm valor. Tem valor a insistência, a garra, a raça, a vontade dos "feios". É o lugar ondes os feios sempre têm vez. Pois quando um bonito, só por alguns momentos, por raiva, insegurança ou falta de vitórias, resolve investir, tal qual um Fernandão no jogo de final de 2008, o Gauchão é uma presa fácil. É traçado tão rapidamente quanto costela gorda em focinho de cachorro. Os feios fogem. As mulheres gritam. Quando os bons resolvem jogar no Gauchão, ninguém é de ninguém.

Mas, por enquanto, deixem os feios se lambuzarem.

Nenhum comentário: