segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

SOBRE MITOS QUE SE DESFAZEM.

Por Andreas Müller

A dupla Gre-Nal atravessa uma fase atípica, surreal; uma fase em que ambas as torcidas vivem a cultuar mitos efêmeros, daqueles que se liquefazem tão logo a bola começa a rolar dentro dos gramados. Vejam os gremistas, por exemplo: há pelo menos dois anos que eles compartilham conosco de uma mesma tese – a de que o Grêmio conta com um elenco fracote, débil, um verdadeiro mistão de peladeiros, ex-jogadores e quase-craques. Bobagem, é claro. Os resultados recentes do nosso maior rival não inspiram lá muito entusiasmo, é verdade.

Mas convenhamos que eles são mais do que suficientes para desfazer o mito de que os times da Azenha são cronicamente fracos. O Grêmio tem uma base forte, sim senhor. Conta com um esquema defensivo sólido como rocha, um entrosamento comparável ao dos músicos da Orquestra da Ospa e um ataque que, se não é um primor de qualidade, tampouco pode ser considerado sofrível. Um bom time – eis o que o Grêmio tem apresentado dentro de campo nos últimos dois anos, à revelia de todas as crendices populares.

Mas deixemos os fregueses de lado. O Inter, vejam só, tem sido vítima do mesmo mal – em versão oposta. Desde 2005, pelo menos, emana do Beira Rio um otimismo incontido com os elencos que se sucedem nas camisetas vermelhas. Até certo ponto, é compreensível que seja assim. Pois não há como duvidar da qualidade de um grupo que ergue taças em escala industrial, como este. Mas o fato é que, nos últimos dois anos, o Inter sido o “melhor elenco do Brasil” somente na imaginação da torcida (e da crítica esportiva, talvez). Dentro de campo, temos de admitir, o Inter tem sido nada mais do que um bom time, ponto-final.

O Inter tem uma base forte, um meio de campo qualificado e um ataque que sempre mostra seu verdadeiro valor em jogos importantes. Mas, tal como o Grêmio, o Inter tem defeitos que quase anulam suas virtudes. Uma delas é a ausência de laterais que apóiam – torço fervorosamente pelo sucesso de Kléber e Marcelo Cordeiro, mas vá lá. Outra é de ordem técnica: uma vez a cada três jogos, no mínimo, Tite arma um retrancão inexplicável, que inutiliza as qualidades ofensivas do elenco e ainda deixa os adversários colorados no maior assanhamento.

E a torcida se dá por satisfeita com o “melhor elenco do Brasil”.

Não estou falando disso por causa do jogo de ontem. Tampouco estou incorporando o papel de arauto do pessimismo. O que eu quero é pragmatismo, amigos. Pragmatismo! Tudo baseado em fatos. O Inter tem um elenco invejável? É claro que tem! Que outro time pode se dar ao luxo de contar com Álvaro, Índio, Magrão, Guiñazu, D’Alessandro, Alex e Nilmar – agora acrescidos de Kléber e Alecsandro? Temos aí um grupo capaz de disputar qualquer título, regional ou internacional, não há como negar. Mas, para isso, é preciso cuidar também do elenco fora de campo.

Antes de sair por aí almejando ser bi-campeão de tudo, é preciso preparar os nossos jogadores e formar com eles um time que não se desmonte no decorrer dos campeonatos. Também é necessário ter um planejamento que abarque as inevitáveis saídas de jogadores diferenciados, como Alex. Finalmente, é indispensável treinar, motivar e, principalmente, ter paciência até que os resultados comecem a aparecer dentro de campo. Com isso, o elenco colorado será, de fato, o melhor do Brasil. Sem isso, ficaremos nessa maldita ilusão dos mitos, vendo o São Paulo ganhar as principais competições do ano e o Grêmio, quase.

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