quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O BOM É SER DO CONTRA.

Por Marcelo Benvenutti

Acredito eu que o calor pode ser o culpado de tanta gente estressada nesse começo de 2009. Vejam um caso que conhecemos bem por já ter convivido por aqui. O Muricy. Sempre nervoso, irritado com as perguntas mais banais, Muricy perdeu a noção da boa educação e relacionamento com a imprensa no final de semana. Depois de conquistar o tricampeonato brasileiro, ser cotado 800 vezes para ser técnico da Seleção, 22 jogos invicto, o cara perde as estribeiras e detona tudo e todos numa coletiva?

Pois bem, Fernando Carvalho, o líder que jamais será esquecido, mas não é perfeito, teve seu chilique domingo e logo contra o sempre atencioso e afável Tite. Tite de fala baixa, amigo de todos, um sujeito que ninguém jamais imaginaria iniciando uma discussão. Pois bem, Carvalho se destemperou porque o Inter teve a ousadia de jogar contra o Sapucaiense em casa com DOIS volantes. Alguns anos atrás, se o time entrasse com mais de UM volante seria massacrado pela turma da vaia das sociais. Agora o Tite, logo o Tite, afamado retranqueiro, coloca dois volantes, sendo que eram eles Magrão e Guiñazu, ou seja, não eram Maycon e Rosinei, e o Carvalho enlouquece e critica essa insanidade ofensivista do nosso campeão sulamericano?

Muita calma nessa hora.

Sei. Nem todos nós estamos preparados para lidar com a imprensa ou com a contrariedade o tempo todo. Eu mesmo, ao me relacionar com outros escritores, muitas vezes perdi a noção de bons costumes. Não, não maltratei ninguém como o Muricy. Ou critiquei alguém por fazer aquilo que se espera que um treinador de um grande clube faça numa partida contra uma equipe pequena da Região Metropolitana de Porto Alegre. Não. Mas, digamos, me encasquetei tal qual um D'Alessandro que vira as costas e não responde nada quando não está a fim. Muricy e Carvalho se perderam. E por isso se desculparam.

D'Alessandro jamais se perdeu. Assim como acredito, eu. Se ele não quer dar entrevistas, que não fale. Se não tem nada de interessante para falar, que se cale. É uma decisão sábia. Assim como eu me calo. Não participo dos saraus que me convidam (me convidavam). Não vou a lançamentos de livros ou rococós e bate-papos forçados com escritores e intelectuais de diversos gêneros (talvez agradeçam por isso). No começo tentei ser afável, talvez D'Ale tenha tentado, mas não era a minha. Depois de algum tempo, minha personalidade ultrapassava a falsidade do bom tom e eu deixava transparecer minha opinião, obviamente na maioria das vezes contrária a tudo e a todos que me rodeavam. Para não causar mais desembaraço, sumia. De tanto sumir, sumiram comigo.

Não é o caso de D'Alessandro. Talvez de tanto tentar não falar, a imprensa queira sumir com ele. Por isso se atiram como urubus e hienas famintas numa carniça sangrenta de búfalo quando D'Ale dá uma bobeada. Por isso já o condenam a 120 dias antes de um julgamento como o de ontem. Sim, a fogueira das vaidades arde sobre um emaranhado de cadernos de esportes e jornais populares. Mas D'Ale tem uma vantagem. Ele é craque. Então o craque joga e cala a boca de seus críticos. Seguindo o exemplo do portenho, só falo quando tenho algo a dizer. Como hoje. No resto do tempo, me calo. Falo o necessário. Confesso minhas opiniões e contrariedades aos amigos mais próximos. Resta-me escrever e demonstrar que também sou um craque na minha grama. Como D'Alessandro. Que mostrou a que veio no River Plate. Perdeu-se na Europa como tantos outros. E veio encontrar seu lugar ao sol no Internacional.

Muricy e Fernando Carvalho são grandes em suas áreas. Mas tentam conviver com a diversidade. São líderes. D'Alessandro é um libertário. Como ele mesmo declarou após o jogo contra o Zequinha que adora quando tudo incendeia no gramado. Não esconde sua personalidade. Não que com isso esteja eu dizendo que os outros são falsos. Não. Mas quando eu crescer quero ser D'Alessandro.

Ou talvez eu acredite nas palavras de Rodrigo Cambará reverberando perdidas na minha memória de leituras infantis: "O BOM É SER DO CONTRA".

Ps.: Só espero que o mistão colorado não faça como outros por aí e desande a maionese. Se bem que o nosso adversário de hoje, pelo que falaram na Globo, nem existe. É um tal de Canoas.

Vocês conhecem? Eu não. Só conheço o Sport Club Ulbra.

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