terça-feira, 3 de março de 2009

E SE TUDO ISSO ACABAR?

Por Andreas Müller


Confesso: sou um cara meio fatalista. Vivo com essa mania de ver as coisas como se elas tivessem, sempre, um destino inexorável, pré-determinado e irremediavelmente triste. Agorinha mesmo, enquanto afagava a cabeça do meu cachorro, o Franz, me flagrei pensando no que será de mim no dia em que ele morrer. Pois é certo que ele morrerá antes do que eu. A não ser, é claro, que eu me torne vítima de um desses acidentes estúpidos que acontecem na Estrada do Mar, ou de um latrocínio – que provavelmente aconteceria em uma das minhas caminhadas noturnas pela Cidade Baixa – ou, ainda, de uma maionese estragada. A morte, surda, anda ao meu lado e eu não sei em que esquina ela vai me beijar, diria Raul Seixas. Mas o fato é que são grandes as chances de eu estar vivo no dia em que morrer o Franz, meu mais fiel e dileto amigo. Até porque eu não como maionese.

Pensei nisso depois do Gre-Nal do último domingo, enquanto voltava para casa metido em mais um buzinaço colorado na Padre Cacique. O que será do Inter no dia em que a atual fase de vitórias, conquistas e contratações milionárias tiver acabado? No dia em que esse negócio de vencer o Grêmio deixar de ser uma rotina?

O futebol é feito de ciclos alternados de sucessos e fracassos. No caso da dupla Gre-Nal, essa alternância é ainda mais evidente: não houve, até hoje, uma única década em que ambos os clubes tenham conquistado grandes títulos. Os sucessos vêm em fases distintas que apenas reforçam o famoso mito da gangorra. Vejamos: desde a criação do Brasileirão, o Inter foi o representante máximo do futebol gaúcho em pelo menos duas décadas – a de 70 e a atual. Já o Grêmio foi expoente do Rio Grande do Sul nas décadas de 80 e 90. Repararam no empate? Neste momento, o Gre-Nal das décadas está dois a dois. Quem será o líder da próxima década? De quem será o próximo ciclo de sucessos?

Hoje, o Grêmio tem o privilégio de disputar a Libertadores. E com um time bastante qualificado, capaz até de almejar o título – sinceramente, ainda não entendi como eles conseguiram perder o Brasileirão do ano passado. Se vencer a Libertadores, o Grêmio tem tudo para engatar uma nova fase de conquistas. Se perdê-la, o Inter é que entrará como favorito na disputa pelo “ciclo de sucessos” da próxima década, se é que isso existe de fato. E a razão é muito simples: competência. A gestão de futebol do Inter pode ter muitas falhas mas, em última análise, é melhor do que a do Grêmio. Isto é: mais profissional, mais séria, mais ampla e, consequentemente, mais rica. A maneira como estão sendo gestados os projetos dos estádios mostra claramente essas diferenças.

Pode-se argumentar que o Grêmio também tinha dinheiro e fazia contratações caras no final da década de 90, época da famigerada parceria com a ISL. Nesse sentido, porém, o Inter tem uma vantagem: utilizou a experiência do Grêmio como lição. Nossas contratações são caras, mas dão resultado; nossos craques custam muito dinheiro, mas não são velhos e não estão no final da carreira; nossas estrelas têm salários astronômicos, mas dividem espaço com revelações da casa. Às vezes, como se vê, não vale a pena ser pioneiro...

Sei que não tenho nenhuma vocação para predizer o futuro. Mas o leitor há de convir que o horizonte do Inter é promissor. Temos totais condições de continuar ocupando o posto de principal clube de futebol do sul do país. O trabalho de Vitório Piffero não é brilhante, mas está nitidamente evoluindo em vez de retroceder. Não há como ser pessimista nesse cenário. O importante, agora, é secar bastante o Grêmio na Libertadores (há outro remédio?) e continuar com a receita que levou o Inter a seus maiores títulos nesta década. Assim, quem sabe, poderemos emendar o atual ciclo de sucessos em outro, renovado. Um ciclo que me permita comemorar novos títulos internacionais ao lado do Franz, meu mais fiel e dileto amigo.

Agradeço ao amigo Raphael Castro por ter cobrido a minha ausência nesta segunda-feira com um texto nada menos do que brilhante. E aproveito para parabenizar o Daniel Ricci Araújo, dono deste espaço nas terças-feiras – e que hoje está completando, nas palavras dele mesmo, "27 Gauchões".

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