segunda-feira, 2 de março de 2009

IMPOSSÍVEL ENTENDER.

Por Raphael Castro


Numa conversa deste fim de semana, disse a um interlocutor que futebol era realmente uma praga: fosse onde fosse, a necessidade de obter informações, quaisquer informações, sobre o Inter lentamente começava a me atormentar e obcecar por completo. Digo isso pois a conversa foi mantida no hospital onde venho passando os dias desde a última terça-feira, em função de uma porcaria de um pneumotórax que rebentou em minha "senhoura". Ok, as mais sensíveis dirão, horrorizadas, que não passo de um desnaturado, e que, fossem elas a minha hospitalizada noiva, prontamente premiariam as minhas fofas nádegas com um negativo das solas de suas sandalinhas.

Mas, voltando ao ponto, o fato é que deve haver algo que cause esta reação tão maluca, a ponto da leve neblina mental que me fez pedir permissão à minha combalida amada para poder acompanhar as notícias do jogo no único terminal de computador que existia no sexto andar daquele hospital (em tempo: aos espertinhos, alerto que o tal interlocutor na verdade se tratava de minha santa mamãe, que nos estava acompanhando ontem...).

Segue...

A conexão estava péssima e caía a toda hora - não é fácil (nem merchandising) tentar acompanhar uma partida pelo "Minuto a Minuto" do ClicRBS num terminal de hospital. O jogo começava, eu suando em bicas pelo calor e pelo nervoso, e a maldita página não carregava - os queridos(as) leitores(as) provavelmente hão de desconhecer os efeitos neurológicos da interrupção de frases como "Guiñazu lança Taison que domina na entrada da áre..."; pois é, não façam isto em casa (nem muito menos em hospitais, senhores(as) leitores(as)...).

Indiada

Outra coisa que certamente não é recomendada pelos manuais de boa saúde é abafar um grito de gol: provavelmente no único momento em que a página não deu um "delay" de uns dois minutos no que rolava no jogo, tive a dádiva inominável de saber, em "tempo real", que o Sr. Índio havia aberto o placar no Beira-Rio. Não sei bem explicar fisiologicamente o que me aconteceu naquele momento: costumo declamar a palavra "gol" a plenos pulmões quando o dito cujo acontece, mas não seria de bom tom acordar o velhinho vegetativo do 604 naquela hora (pensando bem, acho que não, até ele teria saído do coma com um de meus mimosos guinchos quanto o Inter carimba os aflitos). Suspeitei imediatamente de que também eu pudesse ter gerado bolhas em meus pulmões àquela altura (ou isso ou um mega arroto-soluço-galopante começava a se formar no meu "eu interior"...).

Empate

Ok, agora vem a nota inferior da tarde: no anúncio (atrasado) me dei conta de que Alex Mineiro havia empatado - e pior, de forma bem tramada, me dizia o maldito computador (juro que contei mais letras "O" no "GOOOOLLL" escrito pelo sujeito da RBS que fazia o jogo àquela altura, numa clara demonstração de aflitismo doentio, tendencioso, enviesado e absolutamente pessoal contra este servo que vos escreve...). Ermengarda, a enfermeira do turno, me olhou em pânico total quando ameacei abordá-la para roubar a Dipirona e o Profenid do 611 para aplacar as minhas indizíveis ira e dor naquele momento. Por pouco, não fui eu mesmo encaminhado a ocupar um daqueles quartos (o que só consegui após muita conversa e lábia com o chefe da Psiquiatria, que àquela altura sinalizava para ir um enfermeiro pelaesquerda e outro pela direita...).

Redemption

Foi nessa toada até Magrão dar números definitivos ao jogo. Aí, caros(as) leitores(as), não deu pra segurar: eu chorava baixinho, balbuciando incompreensíveis agradecimentos em transe a Deus, Buda, Hare Baba, e toda esta espécie de coisas, em ritmo mais veloz do que uma narração de páreo no Cristal, para espanto absoluto do tiozinho que eu havia amordaçado na cadeira ao lado para me deixar acompanhar em paz o jogo todo. Cheguei de volta no quarto moído, a imagem do próprio combatente voltando da refrega, quando notei o olhar de minha noiva diretamente para mim: ela, só com os olhos, me sorriu lindamente, entendendo a minha completa loucura, e indicando, feliz pelo seu tresloucado amado, que, sim, sabia que havíamos ganho mais aquela...

Conclusão

Claro, descontado o exagero, o fato é que acompanhei, sim, o jogo do hospital e sofri como todo colorado longe de seu time. E, depois de tudo isso - e de conseguir ver as imagens pela TV -, me arrisco a lançar o seguinte questionamento: como, meu Deus, como alguém em (pretensa) sã consciência NÃO TORCE para o Inter? Como é que alguém se submete a não sentir o que eu senti ontem, como alguém consegue se privar de vestir vermelho e dizer que...é colorado desde criancinha...? (como dizia o meu bíblico, profético, ecumênico, e espiritual avô, S.Assis P.Ererê, "perdoai aqueles outros, Pai, pois ainda acham que sabem o que fazem...").

Tópicas: crânios

Sem maldade, mas D'Ale e Ruy...enfim, cada um com seu "cabeção", certo?

Tópicas 2: crânios 2

Na boa, mas sendo o Ruy que dava condição no gol do Índio, é possível que o lateral estivesse em Bagé e ainda assim o Índio não ficaria impedido...

Tópicas 3: constatação

E olha que dessa vez estávamos desfalcados: William Magrão não jogou...

Tópicas 4: chavista

Não custa perguntar: por que não desistem?

Tópicas 5: metempsicose

Não adianta, eu devo ter sido colorado desde a outra encarnação, só pode...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso - e ponto final.

Fui (e não a pé).

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