terça-feira, 17 de março de 2009

UM NOVE NA FRENTE, POR FAVOR!

Por Daniel Ricci Araújo


Se esse time do Inter tem um defeito, este para mim já está claro e descoberto: o ataque é leve demais.

Vejam o jogo do último domingo, contra o Inter de Santa Maria. As discussões acadêmicas, até ali, quase se restringiam tão-somente à necessidade ou não da escalação de Sandro como muleta dos tais “volantes-móveis” Guiñazu e Magrão. Quase ocorriam seminários e conferências na Suíça para debater a elevada questão, mas o ataque, ah não, essa ainda era uma certeza inexpugnável: Nilmar e Taison estavam mais irremovíveis do onze inicial do que a família Sarney está do Maranhão. Mas a vitória de domingo, meus caros, há de ter mudado isso.

O Inter do primeiro tempo, com Sandro, continuava praticando o irritante estilo de jogo “Copa de 70”, cheio de tentativas fantásticas de linhas de passe pelo meio da zaga inimiga. Uma atrás da outra, as tabelinhas afunilavam-se pelo meio do campo como um engarrafamento da Terceira Perimetral e suas cinco mil sinaleiras. A torcida já se desesperava quando Taison, o romântico secreto da noite, faz por achar um tiro fabuloso da intermediária e assim inaugura o placar com direito a corações pela metade e a frase clássica: “ela sabe quem ela é”. Mazá, Taison!

Mas voltemos ao jogo. Vem o segundo tempo e a equipe continua sustentando o magro 1 a 0. E aí surge Tite com a idéia tão correta e definitiva quanto atrasada no tempo. Entram Giuliano e Alecsandro, e o Inter, a partir daí, voa. A equipe, com os dois, ganha uma nova mecânica de jogo, recebe impetuosidade, gana, jogo vertical e imprevisível para o adversário. Giuliano tem em velocidade e habilidade o que Alecsandro possui em imposição física, envergadura, massa - enfim, essas coisas que distinguem os centroavantes do resto do mundo de pessoas normais.

Meus caros, o que se vê a partir daí, mesmo não tendo ocorrido mais nenhum gol, é nada menos do que uma exibição de luxo. Quando o Inter acrescenta peso em seu ataque ele não está tornando-o lento, pelo contrário. Está, isto sim, pondo-o de pé. Não se pode jogar pelo chão o tempo todo. Não se pode tabelar o tempo todo. Não se pode almejar o gol de placa o tempo todo. Não, não e não. Dando a si mesmo de presente um centroavante, o Inter corta o excesso de velocidade e põe a pique a instabilidade ofensiva do time.

Futebol é um jogo no qual o maior planejamento possível deve desembocar na mais bem acabada das casualidades: é pensando em um centroavante e desejando-o que chega a nós a bola mascada da linha de fundo e que fuzila a zaga adversária, ou que pulula dentro da área até achar um pé salvador para estufar as redes. Senhoras e senhores, convenhamos: para o seu próprio bem, é melhor deixar a Copa de 70 nos vídeos de arquivo.

Alecsandro – e também Giuliano, mais atrás – estão prontos para entrar no time do Inter. Nada contra Taison ou Nilmar, dois ótimos jogadores. A questão não é individual, é tática. Com um atacante de referência, mais perto da área, qualquer velocista crescerá de produção tendo de jogar menos de costas para o gol e com mais espaço pelos lados do campo. Anotem aí: Alecsandro (ou Walter, não esqueçam desse nome, eu lhes afirmo) darão ao Inter a consistência que falta para tornar-nos o melhor time do Brasil.

Meu caro Tite, faça-nos o favor: escale um centroavante. Jogos como o de ontem ou contra o União Rondonópolis mostram que um time técnico e leve em demasia está obrigado a correr duas vezes mais para fazer um gol. Deixe o Inter cabecear bolas na área, trombar com zagueiros, fazer abafa no goleiro, deixe o Inter jogar com um artilheiro. Um nove na frente, por favor.

Se isso ocorrer, o Inter tem tudo para ter um Centenário ainda mais inesquecível.

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