segunda-feira, 13 de abril de 2009

SEGREDOS DE UM CASAMENTO.

Por Andreas Müller

Quando conheci minha esposa, em janeiro de 1999, eu sequer poderia imaginar que estava iniciando ali um casamento duplo – com ela e com o Inter. Pois quis o destino, esse fanfarrão, que numa certa tarde nublada eu esbarrasse com minha vizinha mais bonita na portaria do meu condomínio. E que o porteiro, dileto como sempre, se encarregasse de nos apresentar mutuamente e me fizesse descobrir ali que o nome dela era Caroline, que ela era colorada como eu e que com ela estava todo o resto da minha vida.

Eu e Carol parecíamos não ter nada em comum. Ela era uma virginiana daquelas metódicas, com hora para dormir e estudar, rituais para tomar banho e uma estranha fixação pelo alinhamento dos livros que descansavam na estante em ordem alfabética decrescente. Já eu era um desses geminianos caóticos que jamais conseguem usar um relógio, acordam sempre atrasados, preparam um copo de Nescau para o café da manhã e saem de casa sem lembrar de bebê-lo.

Os teóricos dos relacionamentos – e eles existem em toda parte – diriam que éramos opostos que se atraem, feijão com arroz, queijo com goiabada e todas essas bobagens que Claudinho e Bochecha nos fazem cantar de vez em quando. Mas o tempo acabaria mostrando que aqueles contrastes eram apenas aparentes. E que por trás deles havia duas pessoas que sempre almejaram as mesmas coisas na vida. O que faz um casal dar certo, afinal de contas, não são os hábitos ou manias em comum, e sim a capacidade de compartilhar sonhos – engulam essa, teóricos.

Pois um dos sonhos que sempre compartilhamos era o de ver o Inter se tornar um clube gigante. Digo: gigante mesmo, mais do que sempre foi – mais do que qualquer outro clube jamais conseguiu ser. O leitor pode imaginar como era duro nutrir esse sonho numa época em que o Inter teimava em ser coadjuvante não só do futebol brasileiro, mas também do gaúcho. Fugir do rebaixamento havia sido nossa mais recente alegria. Dunga era tudo que tínhamos, mas Ronaldinho Gaúcho fazia questão de mostrar que isso não adiantava coisa alguma naquela maldita época. De qualquer forma, persistimos nesse sonho, eu e Carol, eu e o Inter. Sabíamos que nossa hora chegaria. Simplesmente sabíamos.

Hoje, o Inter é quase tudo aquilo que sonhávamos. “Quase”, porque o desejo de grandeza de um torcedor é infinito. A alegria do torcedor é uma utopia. O Inter já se tornou campeão de todos os campeonatos nacionais e mundiais de que se tem notícia. Mas essas conquistas só serviram para nos fazer almejar mais, mais e mais. Chegamos ao cume da montanha só para vislumbrar todas as outras que ainda precisamos escalar. É bom que seja assim: o que segura um casal é a capacidade de compartilhar sonhos, lembram? Então que busquemos novos sonhos para manter vivo o casamento entre o Inter e seus torcedores. Sonhos que unem o clube à torcida e ajudam a alimentar o amor entre ambos.

Eu e Carol também temos muitos outros sonhos em comum, é claro. Neste exato momento, por exemplo, estamos trabalhando feito chineses e abusando do cheque especial em nome da construção da nossa “casa própria” – engraçado como eu sempre lembro do Sílvio Santos quando ouço essa expressão, “casa própria”. Abrimos mão de todos os pequenos e grandes luxos da vida em nome desse objetivo maior. É duro, sim, especialmente quando chega o fim-de-semana e descobrimos que a nossa cota de despesas no item “entretenimento” já se esgotou e tudo que nos resta, agora, é esperar que o domingo chegue duma vez para que possamos pegar o “Serraria” e desembarcar na frente do Beira Rio, este lugar abençoado que nos dá tantas alegrias sem cobrar consumação.

Mas persistimos nesse sonho, eu e Carol, porque o sonho nos une e ajuda a alimentar nosso amor. Talvez, no futuro, nós possamos até nos orgulhar de termos passado por tantas privações e nossa casa será, então, uma alegria quase incompreensível para nossos corações – tal como foi aquela Libertadores da América em 2006, lembram? O fato é que eu e Carol sabemos que chegaremos lá. Simplesmente sabemos. E o Inter já nos mostrou que saber é uma forma de fazer acontecer.

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