terça-feira, 30 de junho de 2009

Carta aberta aos jogadores do Inter.

Por Daniel Ricci Araújo


Caros jogadores do nosso querido Sport Club Internacional,os senhores estão prestes a viver um daqueles raros momentos nos quais se cala o futebol e levanta-se a história. Junto a vocês, oito milhões de almas anseiam pela chegada do grande momento, da grande noite que, mais uma vez, marcará a grandeza deste clube, filho dos humildes, feito do povo e para o povo. Eu repito, meus senhores: o momento é raro. O futebol está, nesta semana, dando lugar a algo maior em nossos corações.

Junto às suas grandes qualidades de futebolistas descansa a possibilidade do único triunfo que nos falta, a única conta ainda a ajustar – a da retidão. Nenhum pênalti não marcado pode apagar esta chama. Olhando para vocês, a justiça suspira. Cuidando seus passos, a honestidade os aplaude. Hoje, um clube de cem mil sócios mostra ser possível, nesse continente esquecido e pobre, ainda existir uma paixão como a nossa. Aqui, neste sul profundo da América, o Inter diz ao planeta que não são necessários investidores iraquianos. Aqui não entregamos nosso destino a mafiosos procurados pela Interpol. Nestes pagos repousa uma força da natureza chamada Sport Club Internacional, que pode falar da tristeza porque a conhece, e mesmo assim dizer ao planeta inteiro, com justiça, glória e solenidade: outro mundo, outro caminho, são possíveis. Os senhores são os dignos portadores desse clube. Orgulhem-se disso, meus caros.

E por essas razões os senhores embarcam, agora, numa das mais belas jornadas de toda a nossa existência. Ouçam mais uma vez esta gloriosa torcida. Lembrem mais uma vez de todas as taças conquistadas. Mas acima de tudo, meus senhores, eu lhes peço: escutem seu próprio coração. Deem espaço àquela voz só nossa, àquela chama persistente, amiga dos bons e dos justos, chamada consciência. Mais uma vez como tantas outras, sejam os grandes profissionais e os ótimos jogadores os quais, eu tenho certeza, os senhores são. É preciso deixar tudo, absolutamente tudo dentro do campo na próxima quarta-feira. Toda a honra em forma de suor. Todo o amor em forma de vibração. É preciso deixar tudo. Tudo. Menos que isso será nada. Nós sabemos dessa verdade.

E não tenham medo da derrota, meus caros, não a temam por pouco. Como alguém disse sabiamente tempos atrás, muitas vezes o campeão é só isso mesmo, campeão. Se o título não vier, ainda sim os senhores poderão nos brindar com a tristeza mais sublime da nossa história. Sejamos homens, meus senhores, não no sentido quixotesco da palavra, mas em seu significado humano: retribuam na quarta-feira, como tantas vezes já fizeram, todo o amor desse povo. Retribuam calorosamente, apaixonadamente, com ganas de morrer em campo, e o resultado será o que tiver de ser. Paguem amor com amor. Feita essa combinação, o resultado então será só isso mesmo, o resultado. E a torcida, esta generosa e linda torcida, ainda assim, os agradecerá emocionada.

Mas caso a vitória venha, ah, meus caros! Para sempre todos nós estaremos ligados pelo cordão umbilical desta glória. Passarão os anos e os senhores, já velhos e felizes, contarão a seus netos sobre esse dia, o momento no qual estiveram além do profissionalismo, acima da esperança, a noite feliz em que ultrapassaram tudo não só para satisfazer a massa, mas sim a vocês mesmos, deixando o coração em campo. O famoso filme hollywoodiano estava certo: o que fazemos em vida realmente ecoa pela eternidade. Essa é a chance de vocês, mais uma vez, sobreviverem por todas as eras no coração deste povo sofrido e guerreiro que os espera na arquibancada do Gigante.

E isso tudo poderá ocorrer nesta quarta-feira, meus caros senhores. Não tenham medo do resultado. Sigam em frente. Esta torcida mais uma vez estará com vocês, com a mente e o coração. Preparem-se e sejam os grandes homens e atletas que, no campo e na vida, tenho certeza vocês almejam ser, e penso que já o são.

A história os aguarda, meus senhores. Deixem tudo em campo. Tudo.

Simplesmente tudo. E esta será mais uma noite para ecoar pela eternidade.

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