quarta-feira, 3 de junho de 2009

O FANTASMA DE NOVENTA ESTÁ MORTO.

Por Gustavo Foster


Uma década não dura apenas dez anos. Não para a torcida colorada, que amargou, durante uns 15 aquela que parecia ser a eterna "década de 90". Os anos de terror do Inter começaram provavelmente em 1988-89, com aquela sequência de vexames: empate com o Bahia em casa, derrota impossível para o Olimpia, também em casa. Depois, tivemos o desprazer de ver o Banguzinho do co-irmão ser campeão gaúcho em 95, o Bragantino acabar com o sonho do Campeonato Brasileiro em 96, o Juventude espinafrar um quatro a zero no Inter de Paulo Autouri em 99. Vexames, torturas.

O último desastre da década maldita talvez tenha sido a semi-final contra o Cruzeiro, em 2000, no dia em que Leandro Guerreiro foi picado pela mosca tsé-tsé. Era aniversário da minha irmã e a TV era mais importante que o bolo, naquele salão. As reminiscências puderam ser percebidas nos anos seguintes, ainda (ou alguém esqueceu aquele cinco a zero do São Caetano de Tite, quando estávamos a um passo da Libertadores-04?).

Mas contra o Coritiba, Taison matou o fantasma de noventa.

O cenário era recorrente: éramos favoritos, o time era considerado bom, o campeonato estava para nós. E o Coritiba veio para o Beira-Rio e fez um gol a 14 minutos de jogo. Os quase 50 mil colorados pensaram, com certeza, na mesma coisa. Toda aquela insegurança de dez anos atrás voltou, passaram pela cabeça o gol do Mabília no quatro a zero, o pênalti perdido pelo Leandro Nariz, o pênalti "perdido" por Perdigão, os apagões da era Muricy. Tudo, de 1988 a 2005. Aqueles dez anos que se estenderam por catorze, quinze, dezesseis intermináveis temporadas. E parecia estar voltando.

Era quase possível assistir à tristeza caindo sobre o Gigante. Um tornado, vindo de dentro do rio, assolava a cidade de Porto Alegre e levava tudo que era vermelho de volta para o passado. Não conseguíamos acreditar que, de novo, voltaríamos para a casa com o sentimento de que quase deu certo.

Mas o sentimento de decepção durou menos de 10 minutos. Foi o tempo que o pelotense endiabrado que é Taison demorou para ver D’Alessandro lançar Nilmar. A bola caiu nos seus pés. E aquela bola era uma arma. Uma uzi carregada, mirando para o passado. Taison teve o tempo de pará-la, olhar para o gol e dar um chute rasteiro. Libertador. Depois disso, Nilmar se machucou, entrou Alecsandro, autor do gol da virada e do passe para o terceiro gol, este de Andrezinho. Tudo dito se comprovava: tínhamos grupo, contávamos com jogadores diferenciados, o trio de ataque era o melhor da América, nosso treinador encontrara o equilíbrio, a defesa estava sólida e conseguíamos, de fato, consolidar o papel de favoritos.

Jogamos hoje com uma vantagem imensa, abissal. Acho difícil não fazermos gol. Se marcarmos, apenas outros quatro gols nos tiram da final da Copa do Brasil. Acredito que isso não acontecerá.

Foi-se a época em que precisávamos ter sempre um pé atrás. Hoje, o Inter é um time confiável. Taison nos mostrou isso.

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