quinta-feira, 30 de julho de 2009

D'Ale tinha razão.

Por Andreas Müller


Palavras de D’Alessandro registradas no jornal Zero Hora de 26 de maio deste ano:

— O mais importante do Inter, hoje, é a defesa. Na medida em que a defesa funciona, os gols dos atacantes aparecem mais, porque decidem os jogos. Pode parecer filosofia, mas é a realidade. Quem não leva gols, não perde. E tem mais chances de ganhar.

Cabezón sempre foi um sujeito meio desatinado, é verdade. Mas temos que reconhecer: de futebol, ele entende. Em maio, D’Ale resumiu em poucas palavras todo o funcionamento daquele sistema que, até então, mantinha o Inter na liderança do Campeonato Brasileiro – invicto e sem tomar um único gol. A força do Inter, dizia D’Ale, não estava só na velocidade de Nilmar, nem nos avanços insinuantes de Taison. Estava, isso sim, lá atrás, na famigerada “linha de quatro” em que se enfileiravam Bolívar, Índio, Álvaro e Kleber, todos sob a proteção classuda de Sandro.

D’Ale tinha razão. O Inter do primeiro semestre não tomava gols. Podia até fazer partidas deploráveis, especialmente fora de casa. Mas não tomava gols – e o resultado acabava aparecendo, mais cedo ou mais tarde, em um contra-ataque furtivo ou em uma bola parada. Funcionava, enfim. Simplesmente funcionava.

Lembram do jogo de ida contra o Flamengo, pelas quartas-de-finais da Copa do Brasil? Eu lembro: foi uma das piores apresentações do Inter no primeiro semestre deste ano. Ali a equipe de Tite foi dominada de um hemisfério a outro. Deixou o adversário jogar, não conseguiu criar nada e ainda viu D’Alessandro naufragar na dileta marcação de Toró. Mas vejam só: empatou! Ficou em um honroso e satisfatório zero a zero. Não perdeu, não sofreu nenhuma virada, não decepcionou. Apenas empatou. Porque aquele Inter – valha-me Deus! – não tomava gols.

O que mudou no Inter do primeiro para o segundo semestre foi apenas isto: a defesa, que deixou de ser o pilar forte do sistema de jogo colorado. Hoje, o Inter tem uma das defesas mais lentas e frágeis do país. Uma defesa que marca à distância, que erra passes à granel e que, pelo menos até a entrada de Sorondo, teimava em fazer de qualquer bola alçada na área um verdadeiro deus-nos-acuda. Vejam que a produção ofensiva do Inter não decaiu: nos últimos seis jogos, marcou nada menos do que 14 gols – mais de dois por confronto. É produtividade de campeão. O problema é que, nesses seis jogos, o Inter conseguiu levar, também, 14 gols. Uma peneira.

Nas últimas semanas, o Inter foi acometido por uma estranha “síndrome do segundo tempo”. O time começa bem, constrói uma vantagem considerável, mas invariavelmente permite que o adversário empate ou até vire o jogo. Foi assim contra Atlético-PR, Fluminense, Grêmio, São Paulo, Botafogo e, ontem, contra o Barueri. O diabo é que a estratégia de jogo colorada continua exatamente a mesma. Desde agosto de 2008, o Inter é um time que constrói uma vantagem e depois se encolhe para administrá-la. Tite, aliás, chegou a ser amplamente criticado pela covardia da equipe, que sempre se apequenava no próprio campo depois de marcar um ou dois gols. Pois bem: o Inter continua agindo exatamente da mesma maneira. A diferença é que, agora, toma gols no momento em que tenta administrar a vantagem. Antes não tomava.

Contra o Barueri, o Inter conseguiu melhorar na marcação. A equipe paulista criou pouquíssimas chances e só chegou ao empate devido às desventuras em série de Michel Alves. Os três pontos foram sofridos e deixaram um recado claro: o Inter não consegue mais executar aquela estratégia de Tite – a de vencer no primeiro tempo e administrar a vitória no segundo. Ora porque essa estratégia é mal executada e sobrecarrega demais a defesa. Ora porque nossos zagueiros realmente perderam o ímpeto e a qualidade que costumavam ter.

É esta a verdade: o Inter precisa se defender melhor. Esqueçam as especulações quanto a brigas de vestiário, os boatos sobre possíveis dispensas e as fofocas sobre noitadas. Tudo isso é uma grande balela. O Inter só precisa se defender melhor. Nada mais.

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