sexta-feira, 31 de julho de 2009

Melacueca.

Por Marcelo Benvenutti


Tempos atrás, quando o Branco assumiu um cargo no já combalido Fluminense, discutiu com repórteres numa coletiva. Lá pelas tantas, um mais lacaio, sempre tem um mais lacaio, perguntou quais eram os objetivos dele na temporada para o seu time. Branco respondeu que os objetivos se resumiam, não corrijam a desconcordância, estúpidos de plantão, a um só: vencer o campeonato. O repórter retorquiu a pergunta argumentado que o time das Laranjeiras era muito limitado. Branco partiu pra ignorância. Sim, afinal, a resposta óbvia é sempre "vamos lutar parar sermos campeões".

Ano passado, quando Fernando Carvalho brigou com o Píffero, meia diretoria e desafiou quase toda a torcida colorada para contratar Tite, depois de espertamente confrontar o nome de Nelsinho, odiado por todos, com o de Tite, uma das metas era, depois de um mal começo no Brasileirão, conquistar uma vaga na Libertadores. Chegou a se dizer na época que teria até um prêmio extra para o treinador pela conquista da vaga. Não conseguimos. Com muito sofrimento ganhamos a Sul-Americana. Uma grande conquista para um torneio bem disputado.

Noves fora o Gauchão onde, marcando sob pressão e sem medo de perder, o Inter triturou os adversários, a partir das quartas-de-final da Copa do Brasil, o futebol da equipe colorada foi minguando. Taison era o líder dos artilheiros na temporada. Os dribles de D'Alessandro eram estudados passo a passo em vídeos didáticos na televisão. O objetivo traçado pelo líder da atual direção era bem simples, como o de Branco, apesar de todas as dificuldades: vencer tudo.

Perdemos a Copa do Brasil jogando o esquema atual, comumente chamado por aí de 7-0-3, que seja, nosso treinador manda sete jogadores recuarem, a zaga, os laterais e os três volantes, e os da frente, Andrezinho ou D'Alessandro, mais os dois avantes, que se virem para buscar jogo. E ai se um deles não voltar. Será achincalhado pelos patriotas do futebol moderno praticado nos pampas. Infelizmente pra quem gosta de ficar babando na frente da televisão pelos jogos do Barcelona. Esqueçam. No Rio Grande do Sul, os críticos masturbam-se com vídeos da seleção italiana. Fosse por ele, e por Tite, quem sabe, e todas as equipes jogariam num monótono catenaccio guerreiro e lutador. Futebol, Tite, é assim ó:

"Futebol é muito simples: quem tem a bola, ATACA: quem não tem, defende." - Neném Prancha (mas dizem que a frase mesmo é do João Saldanha)

Por fim, dias atrás, Tite, após uma dessas desastrosas viradas que sofremos jogo sim, jogo não, declarou que o objetivo colorado no campeonato brasileiro é, vejam só, "a vaga da Libertadores". Ou seja, quando ainda estávamos um ponto atrás do líder, nosso treinador, se por conta própria ou autorizado por terceiros, declara que uma vaga e tudo bem, que direi eu quando penso se vou ou não enfrentar sensação térmica abaixo de zero nas arquibancadas gélidas da beira do rio? Dizer que quer só a vaga é, como diria Tim Maia, ficar só no melacueca depois daquele arreto num canto sórdido de uma festa rock em um desses becos portoalegrenses. Não existe essa opção. Como Branco, xingando o repórter. Não existe meio-termo. Todos os times, desde os Avaís da vida até os grandes clubes, querem é o título. Nelson Piquet já dizia: segundo é último.

Quarta-feira, na semana da sacudida, respingou pra tudo que é lado, mas quem saiu encharcado foi só um. O bode foi colocado para dar voltas em torno da pista atlética. Fernando Carvalho prometeu um novo Inter. Um Inter com disposição. Tamanha hipocrisia seria impensável em qualquer outro lugar. Mas, em um país, como diria, de novo, nosso grande filósofo, Tim Maia: Um país em que prostituta se apaixona e traficante é viciado não pode ir pra frente mesmo. Sim, num país em que os políticos fazem campanhas prometendo o indispensável, honestidade, nada mais natural que o líder de um clube de futebol prometa à torcida o mínimo aceitável: vamos mostrar disposição.

Quando for pagar minhas contas, em vez de fazer tudo pela internet, irei até o banco. Pedirei um cafezinho. Conversarei com o gerente. Serei solícito e simpático. Enfim, mostrarei disposição. Mas direi que não tenho todo o dinheiro. Só muita vontade de quitar minhas dívidas. Será que rola?

Ps.: Mesmo com as discordâncias de idéias, desejo recuperação ao Tite. A perda de um familiar muito querido depois de uma longa enfermidade é muito dura. O tempo ajudará a aliviar a dor. Boa sorte.

Ps2: Trilha sonora do colunista hoje – Supergrass, Queen of The Stone Age e, claro, Tim Maia.

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