segunda-feira, 27 de julho de 2009

O tetra começou.

Por Daniel Ricci Araújo


Sábado passado, por volta das nove horas da noite, o Inter começou a ser tetracampeão brasileiro.

Sim, senhoras e senhores, é isso mesmo. Após a apocalíptica derrota para o Botafogo, ali mesmo no estertor da tristeza clubística, o Inter começou a fincar no solo a viga-mestra do seu esperado título. Para amenizar o sofrimento oportunizado pelo time em campo, terminado o jogo, nos surge a voz apocalíptica dele, Fernando Carvalho, gritando Chega!, Chega!, Chega!, como se fosse mais um torcedor indignado. Até que enfim. Má fase é má fase: a maior alegria clubística do mês, fruto de uma entrevista coletiva.

O Inter não dá nada em campo, e não nos admiramos mais de fazer coisas estranhas por causa do retrocesso do time. Vejam só o caso do colunista, este triste plebeu que vos fala. O indivíduo simplesmente não aguentou. Nunca na minha vida de colorado tinha feito o que fiz sábado: aos vinte minutos do primeiro tempo, dois a zero para o Botafogo, abandonei o jogo. Simplesmente fui dar uma volta na rua, como quem não está gostando do filme e pede para sair. Eu, colorado de fé, de Beira-Rio sim ou sim, sempre, seja no frio glacial ou no calor senegalesco, dessa vez como que pura e simplesmente desisti do time.

Foi um espasmo cerebral, uma reação impulsiva. Mas foi. Simplesmente levantei do sofá da sala, os parentes atônitos, como se contemplassem um vulto de assombração, peguei a chave do carro e fui. Não havia mais sentido em ver o mesmo time de sempre jogar nada, os mesmos jogadores arrastarem-se em campo, os mesmos atacantes em fim de carreira invadindo nossa zaga a seu bel-prazer, enfim. No fim das contas, foi bom, pois não me estressei mais – empatar um jogo perdido e, depois, tomar o terceiro gol seria ainda pior, e acho que já não tenho mais ânimo para aturar certas coisas.

Mas acontece, então, o momento mais importante do jogo, ou do pós-jogo. Entro no carro para voltar e ligo o rádio – sim, pelo menos o resultado queria saber. E o que ouço? O bálsamo. O oásis no meio do deserto. Flutua pelo sistema de som do carro a voz estridente do vulto vivo dizendo a frase que dele se esperava há dois meses: “não há mais desculpas”. Feliz, paro na sinaleira do Parcão e já imagino, no dezembro próximo, aquela Goethe pintada de vermelho. Fernando Carvalho falou, e nele eu acredito.

Alguém dirá que a reação diretiva é tardia, talvez. Concordo. Mas ainda há tempo de reconstruir o Inter. Estamos na quarta colocação do campeonato, quatro pontos atrás do líder e com mais ou menos uns trinta jogos a disputar. Há tempo para retomar os trilhos, desde que o vagão marche direito. Pelo menos o Inter, parece, resolveu pôr a mão na consciência e dar um passo atrás. Na vida e no futebol, não conheço quem tenha superado seus problemas sem antes reconhecê-los.

O mea culpa o Inter já fez, resta pôr em prática o que precisa mudar. Eu, por via das dúvidas, acho de bom tom que os outros times do país comecem a desconfiar desse Inter tão fraco dos últimos meses. Sábado passado, por que não, o Colorado começou a ser campeão brasileiro.Acho que o Inter vai acordar, e o Brasil inteiro vai ouvi-lo.

Nenhum comentário: