quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Tirem as crianças da sala.

Por Daniel Ricci Araújo


Ouçam a escandalosa notícia: a CBF nossa de cada dia quer agora proibir a multidão de crianças na entrada do time no Beira-Rio, e de quebra, ao que parece, punir o Inter por isso.

Chega a ser algo simbólico: as ricas e alvas crianças não caíram nos bons olhos da CBF. Elas atrapalham o início dos jogos, imaginam os altos dirigentes, mesmo não havendo qualquer registro de problemas em súmulas, mesmo nunca tendo ouvido-se falar de qualquer reclamação nesse sentido. Mesmo assim, com sua invulgar definição de conveniência do show, afirma-nos a CBF a necessidade de concretizar a sentença cruel: tirem as crianças da sala agora mesmo. Tudo pela organização, e salve-salve os jogos às dez horas da noite nas quartas-feiras.

Sem mandar recado ou fazer consulta prévia, a dona de fato e de direito do futebol tupiniquim portou-se como a velha autoritária de sempre: oficiou ao STJD a respeito do crime hediondo que vem sendo cometido no Beira-Rio, e a este seu outro braço casmurro pediu providências, imagino eu urgentes, urgentíssimas. Seja o que Deus ou o Procurador-Geral quiserem. Remeta-se e cumpra-se. Nunca se viu tamanha bazófia. A proibição chega a ser simbólica, repito. É quase uma licença poética para falar do quando essa entidade representa de ruim para o Brasil.

De fato, a CBF é uma madrasta ditatorial e má. Muito má. Um anacronismo da época do Brasil dos Sarneys, dos ACM´s, dos tenentes-governantes os quais, a tanto custo, a consciência nacional ainda tenta expurgar de sua história. Mas não é fácil banir essa gente de seu escafandro de arremedos administrativos. O fato de que uma entidade privada possua com mão rigorosa de ditadura pessoal e intransferível os destinos do maior elemento cultural brasileiro e, ainda por cima, faça dele – e com ele – o que bem entenda não encontra séria oposição, a não ser a de um punhado de intelectuais país afora, encarnados numa resistência tão enérgica quanto impotente.

Mas voltando às nossas crianças, registremos que a “governança corporativa” da CBF não se restringe às primeiras faixas etárias da existência. Relembremos: por uma convocação egoísta e irresponsável, o time do Inter foi destroçado na final da Copa do Brasil por um proverbial senhor de meia idade chamado Dunga. Chancelado plenamente por sua madrasta obscura, o treinador pavio curto da Seleção tratou de operar sem anestesia as pernas do Inter na hora mais pontual e importante do ano. Enquanto o roliço atacante decisivo do Corinthians estufava nossas redes, Nilmar passeava na África do Sul, garantindo o seu futuro e o dos seus netos enquanto aqui, do outro lado do Atlântico o seu empregador, verdadeiro palhaço de circo que religiosamente o pagava todo mês chafurdava na lama de mais uma conquista corintiana – cheia de erros de arbitragem, quase sempre coincidentemente a seu favor.

Alguém me cutuca e afirma que este desabafo deveria dar lugar a uma lamúria queixosa contra o mau momento do Inter. Reconheço: as duas derrotas seguidas foram péssimas, mas não dou a mão à palmatória. Dos últimos cinco gols marcados pelo Corinthians, quatro foram ilegais. Semana passada, analisando o único campeonato de futebol da história da civilização que teve onze jogos anulados, os Desembargadores de São Paulo não acharam prova de crime algum. No momento derradeiro no qual não poderia desfalcar ninguém, Dunga levou Nilmar embora e mandou o Inter às favas. E agora, para completar o circo, um ou outro jornalista da imprensa paulista pede ao o Inter que pare de “chorar” e se concentre em jogar futebol. Realmente, por vias tortas a CBF está certa. O mundo virou de cabeça para baixo.

O melhor a fazer é mesmo tirar as crianças da sala.

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