terça-feira, 22 de setembro de 2009

Vamos confiar no imponderável.

Por Daniel Ricci Araújo


Convenhamos: sábado, quando Tite substitui o apático D’Alessandro para colocar o menino Vagner Líbano no time, pouco nos restava a não ser levantar-nos da poltrona e ir procurar outra coisa para fazer. Nada contra o jovem atleta, que um dia pode tornar-se um jogadoraço, mas esse é o tipo de medida a qual, na hora da maior gravidade do jogo, o treinador do time grande não pode tomar.

Assim, no sábado à noite restava-nos somente beber e assimilar a fria certeza de que o treinador do Inter, na hora de reverter o terrível resultado negativo, na hora de lançar à frente um possante candidato ao título havia feito de um jovem e desconhecido a primeira opção para começar desfazer o escore adverso. É preciso marcar gols, lançar-se ao ataque? Calma. Só depois a promessa Marquinhos, só depois Edu. Primeiro, Vagner Líbano.

Mas aí vem o domingo e, no meio do desânimo, acontece o imponderável. Ou melhor, o mesmo se repete.

Em primeiro lugar, vamos e venhamos: mês passado, ninguém em sã consciência imaginaria que o Inter iria até o outro lado do mundo para jogar a Copa Suruga e voltaria dela ainda na zona da Libertadores. A crítica especializada bramia: ”sexto! Nono! Cinco pontos atrás, no mínimo! Cinco pontos!!”. Ah, meus caros, a crônica especializada babava – e se estrebuchava lamuriosa como a vaca a ser servida no churrasco de domingo.

Dos mais comuns aos menos esperados, resultados favoráveis empilhavam-se como contêineres no porto de Santos para manter o Inter no grupo dos quatro primeiros, e dali não saíamos. Era algo notável, o que ocorria. Tamanha coincidência de escores chegava a ser empolgante, e depois de percorrer o globo inteiro na ida e na volta, o Inter retornava ao solo pátrio ainda dentro da faixa da Libertadores. O imponderável atacava. Observem: atualmente, não há time que perca três, quatro jogos e não despenque na tabela como um meteoro desgovernado. O Inter, não. O Inter foi ao extremo oriente, voltou e, mesmo sem pontuar, sua situação quase não mudara. É um grande discreto, esse imponderável.

Mas voltemos, como eu dizia, ao domingo. Então, para completar o justo pessimismo instalado na véspera, não havia colorado que não pressentisse um massacre do São Paulo no pobre Santo André. O jogo era tão escandalosamente propício ao tricolor paulista que o adversário mudara o local da surra já anunciada para Ribeirão Preto, e não se lhe importava jogar, na prática, como visitante em um campo repleto de são-paulinos. O Santo André queria mesmo era encher os bolsos com a renda, e de fato os deve ter repleto. De brinde, empatou o jogo e levou um ponto na tabela.

O resultado de igualdade surpreendeu a todos, e pior: no segundo tempo, o São Paulo parece que jogava com as pernas amarradas umas nas outras. Por muito pouco não perde. E aí eu lhes pergunto: como não acreditar no título quando o São Paulo, ora, o temido São Paulo não consegue ganhar do Santo André para tornar-se líder e nunca mais sair da ponta, nunca mais, nem que o mundo acabasse, como novamente repetia e bocejava toda a massa pensante da crônica especializada? Como não resistir à tentação de seguir acreditando se temos algo como a milésima pior campanha do returno e, mesmo assim, continuamos somente um ponto atrás do líder, que na quarta-feira encara uma pedreira das piores no Mineirão?

Por isso, meus caros, eu digo: o futebol do time está ruim, mas a mística vai a pleno vapor. Vamos confiar no imponderável.

Na próxima vez que Tite sacar D’Alessandro para pôr um Vagner Líbano, talvez só ele possa de novo nos salvar.

Nenhum comentário: